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Elogie mas do melhor jeito...

“Na vida não há prémios nem castigos. Somente consequências”

Elogie o esforço, não a inteligência. Elogie da melhor forma.

Recentemente, um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que as crianças executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos. O grupo A foi elogiado quanto à inteligência.. “Uau, como és inteligente!”, “Que esperta és!”, “Menino, que orgulho de ver o quanto és genial!” … e outros elogios à capacidade de cada criança. O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto te dedicaste na tarefa!”, “Menino, que bem, ter visto o teu esforço!”, “Uau, que persistência mostraste. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!” , e outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.

Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Elas não eram obrigadas a cumprir a tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência. As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa… As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.

A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso pode modificar a imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente”. As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado.

Conhecemos muitos casos de jovens considerados inteligentes que reprovam no liceu, enquanto há outros jovens “médios” que alcançam a vitória. Os inteligentes confiaram de mais na sua capacidade e prepararam-se adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem uma excelente preparação não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas. No entanto, isso não é tudo.

Além dos conteúdos escolares, os nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, focados no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado.

As crianças precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “Parabéns, meu filho, por teres dito a verdade apesar de estar com medo… és um menino com ética”, “Filha, fiquei orgulhoso de teres dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram… és solidária”, “Isso mesmo, filho, deixar o teu primo brincar com seu videogame foi muito bom, és um bom amigo”. Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real.

Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. “Que linda que és, amor”, “Acho-te muito esperto, meu filho”, “Como és charmoso”, “Que cabelo lindo”, “Que olhos tão bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em factos, nem em comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente.

Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, de copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.

Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa.

MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante.

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